sábado, 20 de agosto de 2011

III - Fórum de Psicanálise e Cinema - 2011

FILME: MELANCOLIA
DATA: 29/08/2011 - SEGUNDA-FEIRA
HORÁRIO: 19:30
Local: Saladearte Cine Vivo
CONTATO: (71) 33478777


José Queiroz - Psicanalista, coordenador do Fórum de Psicanálise e Cinema da APBa e Professor do Curso de Psicologia da UNIJORGE (jhqz@uol.com.br)





terça-feira, 2 de agosto de 2011

AMY WINEHOUSE NA COVA DOS LEÕES

A morte prematura da cantora inglesa Amy Winehouse foi cantada em verso e prosa pela mídia, pelos fãs e, sabe-se agora, até pelos próprios pais. A Diva da soul  music do século XXI repousa no Panteão dos deuses da música ao lado de Jannis Doplin, Jim Morrison, Kurt Cobain... Só para lembrar os mais famosos dentre os “heróis” a cumprirem o seu destino trágico.

Tive a oportunidade de assistir ao show de Amy em Recife, no início do ano. Ao contrário da grande maioria de críticos, colunistas e repórteres que cobriram a sua turnê, na minha humilde opinião, o show foi impecável. Da decisão intempestiva em ir ao show, passando pela performance da cantora e do público naquela noite, até a leitura dos jornais pernambucanos no dia seguinte, tudo apontava para um espetáculo onde todas as expectativas estavam concentradas no limite entre a vida e a morte, o comedimento e o excesso, a covardia e a inveja.  

A decisão de ir ao show surgiu de um argumento jocoso e fulminante para um grupo de admiradores da cantora indecisos: “vamos antes que ela morra”. A piada soa macabra hoje, mas sem sabermos estávamos antecipando uma situação possível... Ou desejada?  No show, a platéia ia ao delírio todas as vezes nas quais a cantora levava uma caneca à boca (que podia conter qualquer substância, inclusive água de coco) com gritos e uivos histéricos a indicar aprovação e incentivo à falta de comedimento e aos excessos arrolados na intensa biografia da jovem musa. Por que a excitação do público com os “excessos” da cantora? Seria covardia ou inveja? Ou as duas coisas ao mesmo tempo?

Vivemos tempos interessantes. Preocupados com o futuro, buscamos uma boa colocação no mercado de trabalho, vida saudável, higiênica e quase ascética: fumar está associado à morte; beber, só com moderação; sexo com camisinha e tomar decisões só depois de pensar bastante – de preferência com o auxílio de um especialista, consultor, guru ou um psi. O importante é tomar a decisão certa, para não se arrepender depois. E assim perseguimos a conservação da vida com comedimento e moderação como um fim em si mesmo – o que muitas vezes significa a ascese como ética contemporânea a revelar o quão distantes estamos do hedonismo que acreditamos nos definir.

Quando aparece uma deusa na música disposta a encenar os nossos desejos mais recônditos, estamos propensos a admirá-la, amá-la e a “torcer” por ela. Esperamos, ao contrário da nossa vidinha banal, assistir ao espetáculo de uma vida intensa, despojada da obsessão com os cuidados do corpo, desprovida da avareza das calorias e o mais próximo possível do hedonismo distante dos pobres mortais. Desejamos avidamente contemplar o espetáculo da exceção a nos provar que um dia também chegaremos lá. O problema é que enquanto esse dia não chega, possivelmente alimentados pela inveja, podemos desejar o cumprimento do destino trágico do herói, com o seu desaparecimento a nos consolar, apontando para o fato de que talvez não sejamos tão covardes assim.

Claudio Carvalho - Psicanalista, Coordenador do Fórum de Psicanálise e Sociedade da APBa (ccarvalho19_23@hotmail.com)