quinta-feira, 20 de novembro de 2014

O sintoma é sempre social - por Claudio Carvalho


O SINTOMA É SEMPRE SOCIAL
Que especificidade carrega o laço social hodierno ao depararmos com os impasses do amor na vida de casal? Como se chega ao grande equívoco de confundir adversários com inimigos numa disputa política no seio de uma democracia? Como transmitir às novas gerações a necessária subtração de gozo, tarefa que os antepassados pareciam desempenhar sem dramas ao cumprir com o trabalho civilizatório de educar para o viver junto? As vicissitudes de nossa vida privada responderiam aos avatares de nossa vida de grupo? Seria possível o psicanalista intervir discursivamente na vida da polis a partir da escuta dos pacientes na clínica?
Freud e Lacan não se esquivaram das incursões antropológicas ao articularem a interação entre o individual e o coletivo na conformação do laço social e os efeitos, na subjetividade, do mal-estar na cultura. Se para Freud o mal-estar na civilização era efeito do recalque da sexualidade, Lacan vai identificar na condição de seres falantes, banhados pela linguagem, o recuo imposto por um encontro sempre faltoso ante a impossibilidade de uma adequação entre as palavras e as coisas.
Contardo Calligaris, mais próximo de nós, ao inventar a Clínica do Social, afirmou categoricamente: “Não existe uma psicanálise do individual e outra ‘aplicada’ ao sintoma social. Pois o sintoma é sempre social. Nesta afirmação, aliás, nenhum sociologismo: pois o que chamamos de individual, a singularidade, é sempre o efeito de uma rede discursiva, que é a rede mesma do coletivo.”.
Durante muito tempo o patriarcado, representado pelo poder político-teológico, delimitava os contornos e limites da vida coletiva ao significar o impossível da condição humana, tributária das leis da linguagem, em encontrar a justa proporção da palavra com a coisa. Ao falar já estamos implicados num distanciamento, num recuo, próprio à natureza metafórica e metonímica comportado pela palavra a deslizar, descontinuamente, pelos desfiladeiros da significação.
Divididos pelas incidências da linguagem, encontramos na sexualidade a heterogeneidade radical aonde a diferença dos sexos atualiza a impossibilidade de completude, recobrindo a falha estrutural no campo da linguagem, condenando o masculino e o feminino a um desencontro repetido no interior dessa alteridade radical. No sexual atualiza-se a virtualidade da pura diferença significante. O desmascaramento da ficção político-teológica, ao nos desprender da autoridade vertical do modelo próprio ao patriarcado, parece ter nos induzido ao equívoco de acreditar estarmos livres da categoria do impossível – tanto nos limites impostos à fala na vida incerta das palavras, em sua polissemia; quanto à alteridade radical entre os sexos.
Não seria a utopia da igualdade um voto de morte perfilado no horizonte da modernidade a obstruir o curso errante e descontínuo próprios do desejo, empobrecendo a vida erótica dos casais? A depressão, as toxicomanias, a violência e o ódio sem endereçamento, a segregação, o racismo e a intolerância crescentes não denunciam a barbárie no coração de uma rede discursiva agenciada pelos implícitos da ciência e de sua promessa de supressão do impossível, se não para hoje, num futuro não tão distante? Não estaria o dissenso próprio ao confronto político-democrático a ceder lugar para o discurso politicamente correto e sua proposta de higienizar a enunciação por uma “coerência” de pretensos preciosismos internos aos enunciados?
A psicanálise pode ser uma tentativa de resposta (um sintoma?) à mutação cultural em curso em sua dimensão sinto-mal. Ao acompanharmos Calligaris ao afirmar que “a nossa subjetividade é a nossa especificidade cultural”, nós, da Associação de Psicanálise da Bahia – APBa, ao longo dos seus 25 anos, reafirmamos a intenção em transmitir a psicanálise em conformidade com os legados de Freud e Lacan ao não recuarmos ante as consequências antropológicas da descoberta do inconsciente. Na escuta do singular é o mal-estar na cultura que alcançamos, porque o sintoma é sempre social.
Claudio Carvalho – Psicanalista, analista-membro e vice-presidente da Associação de Psicanálise da Bahia – APBa.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

III Fórum de Psicanálise e Cinema - 2014

       Her


                       DATA: 17/11/2014 - SEGUNDA-FEIRA
            HORÁRIO: 19:30
                 CONTATO: (71) 33478777
                      Local: Sala de Arte Cine Vivo/ Shopping Paseo Itaigara
                          Coordenação: Claudio Carvalho

Este fórum faz parte da programação do evento comemorativo dos 25 anos da Associação de Psicanálise da Bahia: O sintoma é sempre social



terça-feira, 9 de setembro de 2014

II Fórum de Psicanálise e Cinema - 2014

Vermelho como céu


                      DATA: 22/09/2014 - SEGUNDA-FEIRA
    HORÁRIO: 19:30
       CONTATO: (71) 33478777
              Local: Sala de Arte Cine Vivo/ Shopping Paseo Itaigara
                          Coordenação: Margarida Serrão


          


domingo, 4 de maio de 2014

O feminino e suas especificidades


II Fórum de Psicanálise e Sociedade - 2014

                               Psicanálise e Política


                   DATA: 26/05/2014 - SEGUNDA-FEIRA
 HORÁRIO: 19:30
   CONTATO: (71) 33478777
              Local: SARTRE COC - Unidade Itaigara
                         Emiliano José (Jornalista e escritor)

      




quarta-feira, 9 de abril de 2014

I FÓRUM DE PSICANÁLISE E CINEMA - 2014

                                                               FILME: A CAÇA

                                             DATA: 14/04/2014- SEGUNDA-FEIRA
                                                              HORÁRIO: 19:00
                                                      Local: Saladearte Cine Vivo
                                                       CONTATO: (71) 33478777


                  

Não percam o Fórum de Psicanálise e Cinema dia 14/04 às 19:00h na Sala de Arte - Shopping Paseo!


sexta-feira, 7 de março de 2014

Jornada de Abertura das Atividades - 2014

Um percurso de Freud a Lacan

Coordenação: Euvaldo Mattos, Jacy Soares e Vélia Cotsifis

15 de março de 2014
(8h às 12h e 30 - 13h e 30 às 17h e 30)

Investimento:
R$ 50,00 (profissionais)
R$ 25,00 (estudantes)
LOCAL DO EVENTO: SARTRE COC - UNIDADE ITAIGARA




terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

I Fórum de Psicanálise e Sociedade - 2014

                                                  A Clínica do Social

DATA: 12/03/2014 - QUARTA-FEIRA
HORÁRIO: 19:30
CONTATO: (71) 33478777
Local: SARTRE COC - Unidade Itaigara


Associação De Psicanálise Bahia abre a programação de 2014!!!

"A clinica do social" - dia 12 de março no SARTRE COC unidade Itaigara às 19:30. 

Palestrantes: Jacy Soares e Cláudio Carvalho



sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

UM ANÔNIMO NA MULTIDÃO

As declarações do delegado de polícia sobre o jovem que teria acendido o rojão que vitimou Santiago Andrade, cinegrafista da TV Bandeirantes, como calmo e tranquilo, reproduz uma questão inquietante: como pode uma pessoa calma e tranquila se transformar em um sujeito violento ao fazer parte da multidão? Talvez a ansiedade por reconhecimento, próprio do sujeito moderno, nos esclareça um pouco dessa conduta “transformista”.Com a intensificação da vida urbana, a incerteza do ser e do querer também se intensificaram, aumentando a angústia e o medo de nos perdermos como mais um na multidão a passar despercebido. Somos uma sociedade narcisista, não por contemplarmos embasbacados a própria imagem no espelho, mas por sermos reféns do nosso medo da falta de reconhecimento no olhar dos semelhantes, a nos emprestar alguma imaginária dignidade subjetiva. Somos narcisistas por sermos adictos do olhar do outro.A sociedade de massas tem essa propriedade de nos convidar a compartilhar um consenso para nos sentirmos integrados. A forma de nos servirmos desse re-pasto é a submissão a uma conformidade bovina ao aderirmos a narrativas prêt-à-porter, assim como nos engajamos na moda, nos gostos e nas atitudes “da média” – generosamente ofertadas pela mídia. O sacrifício do pensamento autônomo, do questionamento e da capacidade de fazer objeção são efeitos colaterais da pressa de nos desvencilharmos do que nos define como humanos: a dúvida. Durante uma análise, o analisando vai invocar uma multidão de personagens a quem ele vai atribuir significações acerca do seu padecimento neurótico, excluindo-se; como um anônimo na multidão. Para a psicanálise, a realidade psíquica é uma realidade narrativa e o que se pode esperar de uma terapia é que o paciente inclua-se como protagonista, reconhecendo e se implicando subjetivamente na narrativa de sua história ao interrogar-se sobre o enigma frente ao seu desejo. Suportar a solidão das inquietações da intimidade não proporciona o conforto imediato de pertencimento ao rebanho, mas pode proteger um nome de figurar como pária na multidão.

Claudio Carvalho – Psicanalista, analista-membro e vice-presidente da Associação de Psicanálise da Bahia – APBa, autor do livro O Educador e o Psicanalista: Um Diálogo do Cotidiano e articulista-colaborador de A Tarde.

ccarvalho19_23@hotmail.com